segunda-feira, 28 de março de 2011

C:\

Tanta coisa acontece naquele espaço aberto que a gente teima em chamar de coração, alma, angústia, amor, ódio! Se eu fosse te contar todas as formas com que descrevi o que passava lá quando você estava na minha frente (ou na frente da minha mente) nos últimos tempos, teria certeza de que eu estou louca: invoquei o destino, os arcanjos e a sorte, mas também tinha bons argumentos racionais sobre as vantagens estruturais e sistêmicas de um eventual romance. Em dias menos venturosos, eu tentava subtrair em mim sua importância, embora seja sempre mais fácil e mais imediato para mim reduzir a minha própria.

E é assim que os arquivos se avolumam: por exemplo, um "bom dia" seu indexa uns quinze significados, que eu extraio dos seus olhos, da sua postura, das minhas dores passadas...

Olha, eu não sei mais o que fazer com tanta caixa.

segunda-feira, 26 de julho de 2010




Das histórias que nós, humanos, criamos para explicar o Universo, a que eu mais gosto, com certeza, é aquela que diz que a existência é obra do acaso. Eu acho muito bonito imaginar que nada previa a existência daquela roseira orvalhada na manhãzinha ensolarada, e que assim, por obra de muitos e muitos anos de acontecimentos fortuitos, essa roseira esteja lá, em cores, perfumes e veludos. Parecida com aquelas histórias de amores que começam não se sabe de onde, com pessoas que jamais se veriam se não fosse o atraso do trem.

(Imagem: Rosa Meditativa, Salvador Dalí)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Criacionismo

Somos mesmo, os dois, desses deuses
De antes daquele deus do Verbo.
Não nos sabemos deus ou deusa,
Gente ou vento, Sol ou Lua.

Somos indistintos,
Em tudo (e no todo) nos confundimos.
Não existimos no tempo.
No caos, trocamos as mãos, os olhos...

E quando você me toca, cria o arrepio;
Quando eu te toco, crio o afago.

Quando você me olha, cria a calma,
E quando eu te olho, crio o fogo.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Outroragora

Amar você é sentir cheiros de tempos antigos
Com circos mambembes e marionetes
Cavalos e saias e rendas, mas também
Povoados de vampiros e lobisomens

Tempos de homens de honra, mas não
Você não

Você é dos piratas malvados, dos ciganos traiçoeiros
Dos vendedores de elixires fajutos

E é nesses homens perdidos que eu me ancoro
Soldados de suas necessidades
Presas do momento

Que se agarram como podem
Em um mundo que se esfacela
E morrerá
Com a chegada da luz elétrica

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sol-Plutão, Urano-Saturno

Olha, eu preciso te falar... Os dias estão confusos, eu não consigo ordenar os pensamentos, e isso me dá vontade de não pensar, e a certeza de que o melhor é não pensar mesmo. Rotinas, rituais, procedimentos: o personagem está me matando. Tudo o que eu quero é desintegração, mas não falo de morte, não se assuste, eu quero é parar de morrer nessa pose de fortaleza. Eu quero aquele conforto de não precisar defender coisa nenhuma, de não precisar provar nada, você me entende? Quero que tanto me faça se eu pintar ou não os olhos, coisas assim. Você me entende?

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sala de espera


Estávamos nós dois na sala de espera, como se nunca houvéssemos... mas ai, dói demais falar. Estávamos os dois, eu enfiada num livro, você andando pela sala – como sempre, eu fugia para dentro e você, para fora. Estávamos os dois, e eu já nem sabia por onde meu coração andava, o seu, de um lado para outro na sala. Os dois, com fria polidez, sem nostalgia. Como se nunca houvéssemos... mas ai!